26 maio 2009

Como compreender uma nova educação.

de: Thaise Rodrigues

Observação: (comentários e visão sobre o texto: Novos olhares pela educação, do prof° Marcos Laffin)

Para se entender os caminhos da educação, deveremos primeiramente avaliar que tipo de educação apreciamos, bem como que tipo de educação queremos para os nossos filhos e para o futuro. Tomo-me como parte deste processo de avaliação; pois, percebo que precisamos partir de um olhar do individual para o social, e, portanto, primeiramente entender o significado de educação para nos mesmos.

Para que haja Educação no verdadeiro sentido do termo, devemos, antes de qualquer coisa, considerar duas premissas básicas: o amor e a auto-educação. “Amar para educar e auto-educar-se para amar”. Afirmo isso porque, para que possamos expandir verdadeiramente os horizontes da educação; precisaremos olhar, sentir e agir com amor, ternura e solidariedade, pois, antes de pensarmos em transformar a humanidade ( que é o que se espera da educação!); precisamos antes nos transformarmos; porém, não esperar por isso, pois sabemos que requer tempo, mas agir pensando nisso!

O autor do texto:”Novos Olhares pela Educação” do prof° Dr Marcos Laffin, coloca muito bem sua análise sobre a condição humana, mas, não deve esquecer que, antes do homem chegar a uma condição, ele partiu de uma essência, e, essência, envolve valores e sentimentos que são construídos desde a educação infantil; e que também, a partir de tal infância, vai poder iniciar-se o desenvolvimento dos níveis de consciências sobre a vida. Digo 42-16875317isso porque, antes de pensarmos em uma educação voltada para o progresso científico, pensemos primeiro em uma educação que desenvolva no espírito humano a capacidade de ser racional mais também poético (não uma poesia romântica e fora da realidade), pois são vias que quando estimuladas positivamente, expandem os horizontes de uma visão mais sensível para perceber realidades, e portanto, de uma visão mais aberta e esperançosa para sentir e construir o novo, ou seja, uma visão humanitária e coletiva, que associe racionalidade e sensibilidade para um agir que pense, não só em si, mas também na coletividade de suas ações e na responsabilidade de suas decisões, as quais irão incidir neste mesmo coletivo social e complexo em que vive, enfim, um agir convicto de que o que estar a fazer será a coisa certa, pois antes se pensou no bem comum.

Como instituir debates sobre políticas educacionais de inclusão, como discutir ações afirmativas para instituir o diferente, enfim, políticas de transformação social pela educação, sem começar pela análise humana, de sua essência e condições? Penso, se procurarmos soluções primeiramente na sociedade e sua política, creio que falharemos. Primeiramente porque, quem constrói o social é cada ser humano com sua subjetividade; sendo esta construída por suas vivências e experiências apreendidas num processo sócio-histórico de existências.

Questionamos os valores desta sociedade, somos contra suas formas e representações, questionamos uns aos outros constantemente e, não sabemos quem está com razão, com a verdade! Quem são os aproveitadores desonestos, os exploradores, os opressores, os que promovem discriminações, enfim, quem são os hipócritas?! Essas perguntas nos atormentam, nos revoltam, em vez de nos indignar. Não digo para não questionarmos nem para deixarmos de ser contra ao que achamos incoerente, pois, para formularmos projetos temos mesmo que ver possibilidades diversas, mas, questionarmos com a justeza de nossas ações, ou seja, não sermos incoerentes e contraditórios com o que questionamos. E mais uma vez percebo, que a solução primeira está em se avaliar as ações humanas!

Se vivêssemos num país justo, solidário e democrático, portanto, sem desigualdades sociais, haveríamos de ter dois tipos de educação: Uma escola formal, oficial, transmissora dos conhecimentos científicos, e outra informal, popular, fundada no diálogo, na problematização, no desvelamento da realidade. Penso que as condições do ambiente social estariam neste caso bem mais propício e aberto a aceitar tais valores e, não mais só compreender os mesmo (achando tudo muito bonito e belo!), mas, vivenciá-los com uma vontade mais otimista de mudar, porém, quem começaria dar este primeiro passo por esta tão sonhada sociedade?? Certamente ainda ouvimos: Ele! E eu? . Percebe? Sempre esperamos pelo outro!

Esperamos primeiro que a sociedade melhore, ou os ditos seres sociais melhorem? A sociedade não convence com os seus valores ou, os seres sociais não convencem? Penso que ainda vivemos uma falsa democracia, uma falsa solidariedade e igualdade, logo, ainda não somos justos! Por onde começar então o tema gerador da educação?

Bem sei como é difícil aceitar mudanças, ainda estamos nesta condição humana, todo mundo deseja mudanças, mas, o que fazemos, o que construímos de bom e, acima de tudo, com que objetivo e de que forma buscamos essa tal mudança? Penso eu, ser uma questão de vontade ativa, de esforço certo, de acreditar no futuro bom, de querer realmente esse novo. Mas será que estamos prontos pra esse novo? Ou, quando estaremos? Questiono-me, desde quando percebo que, os valores de solidariedade, fraternidade, amor e paz, são banalizados, ridicularizados, enfraquecidos, amortecidos, esquecidos pelos mesmos seres que “lutam” por uma sociedade mais justa e humana!!

Porém Gramsci coloca: “Todos os homens do mundo, na medida em que se unem entre si em sociedade, trabalham, lutam e melhoram a si mesmos”. Perfeito, mas contanto que não se deixem adormecidos nobres valores; sem confundir pacifismo com passivismo, caso contrário não teremos uma verdadeira liberdade e justiça!

E a educação? Perdeu-se no meio de tantos valores tortos. Logo, somos todos responsáveis pelo fracasso da educação, pois os valores são intrinsecamente nossos! Já que educação é responsabilidade social e, como tal, não é dever somente do Estado, faremos então tal responsabilidade, mas, contudo, saibamos de que forma e com que objetivo a fazemos!

Os novos horizontes da educação se fazem com mentes e corações abertos, diálogos francos, coerentes e receptivos a diversidade, sabendo que, para gerar realmente ações afirmativas, precisará se instituir a não exclusão, a não marginalização, a não discriminação e, a não políticas compensatórias e irresponsáveis. “Precisamos aprender a anunciar o nosso sonho humanizador, enquanto denunciamos um presente desumanizador” (Freire). Fala-se de um sonho real, que se sonhe junto, portanto um sonho coletivo.

“A revolução não se faz num momento, ela se constrói cotidianamente, em todos os espaços e tempos, onde os valores de solidariedade possam ser cultivados. Onde a competição, o individualismo, o egoísmo, o autoritarismo e tudo o que destrói a possibilidade de vida, possam ser desfeitos” (Silva, Antônio Fernando). “Não nos deixemos prender em ‘círculos de segurança’, nos quais aprisiona também a realidade, pois conhecendo-a melhor podemos transformá-la. Não temamos o desvelamento do mundo, o encontro com o povo, o diálogo com eles; de que resulta o crescente saber de ambos. Não há saber mais ou saber menos: há saberes diferentes”. (Paulo Freire).

Para ouvir o povo e dialogar com ele, precisaremos primeiro nos solidarizar com eles, mas não uma falsa solidarização que é: (manipuladora, opressora, fingida), mas uma solidariedade com vistas a gerar a autonomia do ser. Valor este, que gera proximidade e confiança, e, portanto, uma maior capacidade de se chegar ao saber do outro. Neste ponto em que chego, faço um convite à leitura: “Se sou referência, como chegar ao saber do outro?” e, “Procurando compreender a fala das classes populares” (textos extraído de Vitor Vicente Valla. Saúde e educação, 2000).

Para perceber realmente as diversas realidades humanas na diversidade de suas condições sócio-culturais e morais (multidimensionalidade na qual foi construída os diversos níveis de consciência, racionalidade e poesia do ser), é preciso exercitarmos um novo olhar de sensibilidade e solidariedade, e, onde o ser humano em suas vivências, deve pautar suas ações exercitando o dever da responsabilidade e respeito pelo próximo, ou seja, onde sua subjetividade respeite os limites da subjetividade do outro. (considerando a consciência dos limites da ação humana de MORIN). “Ainda dentro desta dimensão, pensar e construir propostas coletivas na diversidade e exigir políticas pontuais sem perder a dimensão de políticas universais; tendo como guia a generosidade humana como uma possibilidade nas decisões” (Prof. Marcos Laffina). Penso assim estarmos estimular e contribuindo para a real autonomia do ser, para que assim possa se desfrutar de valores emancipatórios.

Enfim, “(...) levando em consideração o valor da solidariedade, valor que organiza e politiza. É essencial que todos os setores funcionem organicamente e solidariamente. Assim, vale ressaltar que não basta mudar o sistema explorador dominante, é preciso transformar o ser humano visando a sua totalidade e complexidade” (SILVA, Gilvânia Ferreira)

O que há com as pessoas? Por quê fortalecemos e incitamos o desvalor dos valores morais? Ainda são abafados, evitados, desprezados; acho que por ainda serem considerados equivocadamente como valores delicados para uma sociedade cruel. Penso ser um equívoco e uma hipocrisia de seres que equivocadamente entendem “se proteger” no desvalor; uma vez que a sociedade ainda a considera como o melhor meio para se chegar a justiça! Pobre humanidade, desconhecem ou ainda não reconhecem o verdadeiro significado, força e preciosidade da moralidade para uma verdadeira transformação; a qual se começa na educação!

E para não deixar se perder, retomando então a Educação desde o processo de desenvolvimento infantil até a condição de autonomia do ser, Jean Piaget coloca brilhantemente: “Na moralidade autônoma, o indivíduo adquire a consciência moral, onde os deveres e regras são cumpridos, mas com a consciência de sua necessidade e significação. O indivíduo age com plena consciência do que está fazendo e por que o faz. A responsabilidade pelos atos é proporcional a intenção e não apenas pelas conseqüências do ato”. Daí o imperativo de marcharem juntas, a inteligências (razão) e moralidade (poesias).

“(...) Somos, porém, os únicos seres capazes de poder ser objetos e sujeitos das relações que travamos com os outros e com a História que fazemos e nos faz e refaz. É assim que a prática veio se tornando uma ação sobre o mundo, desenvolvida por sujeitos, que de pouco em pouco vai ganhando consciência do próprio fazer sobre o mundo. Não haveria prática, mas puro mexer no mundo se quem mexendo no mundo, não se tivesse tornado capaz de ir sabendo o que fazia ao mexer no mundo e para que mexia. Não é no silêncio que os homens se fazem, mas na palavra, no trabalho, na ação-reflexão”. (Paulo Freire)

Essa ressignificação do território humano se faz necessária, dentro dos horizontes pedagógicos da humanidade, abrindo-se caminhos para uma nova concepção em educação; por uma pedagogia da autonomia, por uma práxis e poesis; com ações humanas, demasiadamente humanas; enfim, uma pedagogia da esperança, com olhos no futuro, posto que, o tempo evolua com a evolução dos homens, caso contrário estaremos andando em círculos, reproduzindo velhos hábitos e idéias; incoerentes com novas realidades que pedem mudanças,estando assim contribuindo para a manutenção de uma velha ordem social. Enfim, não devemos oprimir uma forma diferente de educação, e sim, instituir uma educação como prática da liberdade.

Sejamos heróis em tempos de exclusão, eduquemos nosso espírito, busquemos igualdade na diversidade e alcançaremos verdadeiras transformações. “É pela educação, mais do que pela instrução, que se transforma a Humanidade” (Kardec, em Obras Póstumas).

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